sábado, 17 de agosto de 2013

O refúgio da gaivota


                                                               O refúgio da gaivota


O sol do meio dia abrasava o recreio da escola. Com perplexidade avisto o voo rasante de uma gaivota, ouço o seu gemido e verifico que ela escolheu o nosso recreio para pousar, procurando sombra num caminhar coxo, encolhendo uma das pernas a cada dois passos.Impressionada com o porte da ave, muito maior que os pardalitos que nos dão os bons dias manhã cedo, em bandos, apropriando-se do espaço que tão bem conhecem, interrogo-me sobre a inesperada visita. Porque teria a gaivota escolhido o recreio de uma escola, da nossa escola, para se recompor? Teria ouvido o chilrear das crianças brincando e confundindo esse som com o ruído do vento afagando as vagas do Tejo? Ou chiar do baloiço, semelhante à melodia produzida pelas  cordas das amarrações dos pequenos barcos ancorados a iludiu? Seria um sinal ou uma mensagem, vinda de lugar inacessível aos humanos? Interrompi a reflexão já que a gaivota de bico entreaberto me pareceu sedente. Levei água para junto dela...de mansinho para não a assustar ainda antes de me afastar começou a bebericar, junto ao muro onde se destaca a pintura que representa Vasco da Gama...encontrando ali o seu elemento...o mar. Mais tarde, deixámos-lhe comida. No dia seguinte, partiu, mas antes sobrevoou o nosso recreio, despedindo-se de nós com o seu piar característico. Voa gaivota, não sei o que ou o quê ou se me querias contar algo, mas peço-te, leva mensagem, pelos céus e mares e rios...que escolheste como refúgio, em momento de sofrimento, o solo terno e seguro do recreio da nossa escola.

 













     

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A torre e o teto


                       A torre e o teto

     Martim, três anos ainda por fazer, inicia a construção da sua "torre", decidido, rodeia-se de todos os blocos existentes na sala. Com cuidado, demonstrando a sua larga experiência em construção de torres, vai empilhando bloco sobre bloco, esticando os braços e pondo-se em bicos de pés.No momento em que aumentar a torre se torna impossível para a sua capacidade física, olha em redor e a solução é pôr-se em cima de uma cadeira, agora, num sobe e desce, segura cada peça contra o corpo, mantendo o equilíbrio com a mão livre. Surge de novo o momento em que a dificuldade de aumentar a torre se manifesta...olhando para mim, pede-me sorrindo, uma cadeira mais alta. Recuso-lhe a cadeira, com o argumento de que a torre já está maior que eu, pela expressão dele vi a debilidade do argumento, não sendo eu baixa estou longe de ser alta.Não desiste e reforça a sua intenção explicando-me: Sabes Dona Rosa, a torre ainda não está no teto! O limite do Martim para a sua construção era  teto. Todos nós fomos assim em criança. Os limites são necessários para nossa segurança mas, lamentavelmente por demais são cerciados, até já não possuirmos audácia e coragem para projetármos nossos sonhos e anseios.Limitamo-nos na inferioridade, na insegurança, no receio.Como foi bom quando o nosso limite era o teto e para lá do teto... quando o nosso limite era o céu.